segunda-feira, 5 de março de 2012

As Formigas


A proposta era construir um desfecho para o conto "As Formigas" de Lygia Fagundes Teles


Passo a passo, fomos descendo os degraus da velha e empoeirada escada que levava ao nosso quarto. Tomando muito cuidado para a "bruxa" não nos ver, fizemos um silêncio absoluto. Mas não foi o bastante. A velha saiu de dentro de seu quarto com uma cara de sono que só a deixava mais feia do que ela já era, os olhos puxando uns aos outros para não fechar, e com as unhas vermelhas e descascadas ela coçou levemente os cabelos sujos e todos bagunçados, então disse:
_ Onde vocês pensam que vão?
Nervosa e completamente vesga, minha prima responde:
_ Nós vamos embora.
_ O quê? _ pergunta a velha confusa, nervosa e raivosa.
_ É... n... ós... vamos para casa _ tentou explicar a minha prima com medo e mais vesga ainda.
_ Por quê? _ questiona a velha.
Então eu decido que vou responder:
_ É... tem muitíssimas formiguinhas em nosso quarto e elas...
Sem me deixar completar a "bruxa" responde:
_ Mas não vão mesmo! Só por causa das formigas? Larguem de ser medrosas _ diz a dona da pensão, bruxa ou velha furiosa.
_ Venham comigo, eu darei um jeito nas formigas! E... Essa menina não vai parar de ficar vesga? _ responde e pergunta ao mesmo tempo a velha.
Nós nos direcionamos para o quarto com muito medo e o cheiro que nos atormentava surgia a cada degrau que a gente subia, cada vez mais forte. Com a cara totalmente fechada, a velha olha diretamente para os meus olhos e da minha prima e coloca em sue rosto uma cara de nojo de duas meninas que vieram da cidade e estavam com medo de formigas. De repente, ela segura a maçaneta da porta e a gira bem devagar, e a porta foi abrindo bem devagar, e quando ela escancarou... Surpresa! As formigas haviam desaparecido. Com mais raiva ainda por não ter encontrado as formigas, a velha diz:
_ Vocês estão totalmente doidas, malucas, loucas. Primeiro ter medo de formiga é frescura. Segundo não ter formigas é doideira.
Sem reação, minha prima se aproxima de mim, aperta minha mão e espera que eu diga algo, mas infelizmente eu não tinha palavras para descrever o momento. Escutamos de boca calada a todos os insultos que a velha dona da pensão nos fazia e esperamos ela ir embora para poder nos abraçar e começar a procurar as formigas, o anão e o caixotinho.
Já menos vesga, minha prima diz:
_ Mas... prima, eu não quero ficar aqui... e... nem sinal de caixotinho ou das formigas...
_ Pense! Se formos embora , como vamos fazer a faculdade que é tanto meu sonho quanto seu? _ pergunto tentando esconder meu medo e acalmar minha prima _ E, quanto ao anão, eu tô com medo, mas o que vamos fazer?
Minha prima não diz nada, apenas me olha com um olhar de que mistura sentimentos e depois vira a cara para a parede, depressiva. Começa a chorar e eu olha imediatamente para ela.
_ Prima, por que está chorando?
_ Fala sério que você não sabe? _ indaga ela soluçando.
_ Não fique assim, afinal eu estou com você e você está comigo _ tento consolá-la.
Sem nada para dizer, eu levanto e vou à procura das formigas. Olho para a janela e vejo o sol nascendo com todas as nuvens enfileiradas, em uma pequena fila, aparecendo uma por uma. Quando olho diretamente para baixo, veja minha prima já deitada no chão com os olhos fechados, pois afinal ela estava realmente cansada e eu também. Arrumo a cama e tento tirá-la do sono para colocá-la na cama. Sem tempo, pois tinha de ir para faculdade, pego minhas coisas e vou tomar o café.
Na faculdade eu segurava os olhos para que eles não fechassem e que perdesse a aula. Mas foi impossível segurar umas cochiladinhas nas aulas longas e chatas de história. Minha doce sorte foi minha professora não me pegar no flagra. Mas quando a aula finalmente acabou, minha amiga Clara me chamou e informou de que a aula havia terminado. Peguei minhas coisas e fui para casa.
Lá, eu e minha prima ficamos de vigia para ver se as formigas não iriam aparecer. Para nossa surpresa, quando menos esperávamos lá estavam elas de volta. E o caixotinho com os ossinhos do anão também. Ficamos quietas observando aquelas formigas tão determinadas a fazer algo. Elas novamente apareceram em fileiras. O caixotinho reapareceu ao lado da cadeirinha de palha, sem falar do cheiro forte e estranho. Corremos e com cuidadíssimo olhamos dentro da caixa, mas não havia nada.
Quando tentamos dormir, escutamos um barulho e fomos ver o que era. Ao sair do quarto, vimos o filho do dono da pensão e imediatamente deduzimos que aquele médico novato havia feito aquela brincadeira conosco. Contamos à dona da pensão que tratou de dar-lhe uma bronca, mas com a maior falta de graça pelo ocorrido.
_ Sabe que até foi divertido! _ eu disse.
_ É, apesar da confusão... _ respondeu minha prima.
Naquela conversa, nós duas sentadas na velha e suja varanda da pensão observamos o sol ficar cada vez mais longe, cada vez mais pálido. As estrelas se aproximando cada vez mais perto, cada vez mais brilhantes, ocupando o céu em seus devidos lugares. Ficamos quietas, apreciando a passagem do dia e a chegada da noite.
_ Boa noite! _ disse a minha prima encostando-se na cadeira.
Então, eu dei um pequeno sorriso, encostei na cadeira e, de olhos fechados, disse as últimas palavras do dia, deixando de lado aquela confusão:
_ Boa noite também.


Isabela Terra Tavares Ramos e Milena Rodrigues Amaral – 8º ano 2011

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