sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Nostalgia 2

O homem que entrou no cano

Abriu a torneira e entrou no cano. A princípio incomodava-o a estreiteza do tubo. Mas conforme ia descendo, seu corpo ia se adaptando. Com a velocidade de um piscar de olhos, já dava para ver uma luz no fim do cano. Um cheiro terrível invadiu o ambiente. O homem desmaiou. O impacto com a água o fez despertar. Quando isso aconteceu, ele percebeu que estava boiando no esgoto da cidade. Olhando para trás, avistou uma população de ratos seguindo-o (ultimamente estavam sem muita opção do que comer e um lixo grande e diferente como aquele poderia satisfazer a todos.). Deu uma rápida nadada até um pneu a sua frente. O objeto lhe serviu de apoio. Com isso os ratos ficaram para trás.
Continuou o percurso. Lixos urbanos e industriais passavam ao seu lado. Enquanto isso, o homem via tudo aquilo e lembrava de quando abriu a torneira. Percebeu que não se deve jogar qualquer coisa pelo cano. Voltou em si quando ficou preso em um entulho de excrementos. Esse entulho impedia a saída do esgoto. Teria que largar o pneu. Sua única chance era nadar abrindo espaço com as mãos. Conseguiu sair. Aquele esgoto desbocava no rio. O homem nadou até a beira. Encaminhou-se diretamente para casa. Seu cheiro era forte, nem ele mesmo suportava. No caminho à beira do rio, fitou um homem. Ele pintava a casa. As latas de tinta eram jogadas displicentemente no rio. Rapidamente, deslocou-se até o pintor e disse-lhe:
_ Por que não entra pelo cano?

Hilda Lessa Arenásio Bastos - 7ª Série / 2003

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